sábado, 29 de dezembro de 2007

Réquiem para a derradeira lágrima















Porque do tempo corres cedo
por entre vilas maltratadas
amolecendo o asfalto, as calçadas
num domingo de arremedo

Porque te fazes sentida
em tudo o que revelas
Até às cores da aquarela
trazes o dom da vida

Porque passeias entre campos e cidades
comigo... Desfilando finalidades,
umedecendo a face avulsa

Tal como lágrima reinventada
Quente, destilada,
solitária e insulsa

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sobre imagens e palavras





















Enquanto revejo os últimos dias
Sereno, meu corpo inerte
aguarda que minha mente disserte
sobre se tu, Palavra, a mim voltarias

Palavra, nesta tua viagem
nesses teus dias de ausência
deixaste num inquietante vazio de eloqüência
a mim, que me chamo Imagem

Mas em momento apropriado
sobre esta vida de significante e significado
falarei em um ou dois comentários:

Despidos da mais nobre alegria
com suas cestas de palavras sem poesia
pobres mesmo são os dicionários...

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Do que se tinha em mãos
















Já foram as cores tão desbotadas
E tudo o que prometo
Tantas as semanas passadas
Tomando a forma de um soneto

Se há nuvens no céu
Contemple-as enquanto lá estão
Não importa se numa folha de papel
Ou na nota desafinada da canção

Benditas as palavras poucas
E as vozes que soam roucas
Porque delas ainda dispomos

Mas foi-se o dia...
E foi-se a poesia...
E foi-se o tempo em que éramos o que somos

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Carta ao relógio





















Minutos escapam aos meus dedos
Inconstantes...
Trazem com sua partida os meus medos
Receios de um jovem errante

Se tenho de caminhar sozinho
Que seja no fim do ano
Deixo hoje em meu caminho
Apenas as pegadas do cotidiano

É hora de enfrentar novas batalhas
Vestir minhas armas, como sempre faço
Levantar e calçar minhas velhas sandálias

Se o relógio é Vivaldi, eu sou Beethoven
Ele insiste em trazer outras estações em seu sonoro compasso
Mas é aos meus passos, somente a eles que os tempos ouvem...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Pequenos versos para o céu...














Alcançar o céu, uma longa viagem...
Despedaçado da tentativa... hora de reunir o que restou
Sei que terei que atravessar o rio até a outra margem
Mas é em busca daquelas nuvens no horizonte que eu vou

Depois da travessia



Lá vem o velho canoeiro
Lembrando da terra em que foi garoto
Das vezes em que observou o bom humor do boto
Ele que remou o dia inteiro...

Líricas são suas redes de pescar
Trazem notícias e tantas novas histórias
Antigas virtudes, recentes glórias
Uma nova jornada para relatar

De tantas travessias, a mão calejada pelo remo
Suportou o vento e seu eloqüente açoite
Força que vinha da vida que deixou para trás

Ah, não poderia haver regresso mais sereno
Depois de mais uma solitária noite
Que estar de volta aos braços daquela que deixou no cais

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Escultura





















E eu era apenas um menino...
Pronto para embarcar na companhia de pessoas estranhas
Em busca de novas façanhas
Que sustentassem este corpo franzino

E eu era só um menino...
Admirando o vento sobre as águas
Esperando que ele soprasse para longe as minhas mágoas
Ah! Aquelas vagas esperanças de meninos...

Mas não sou mais aquela criança
Gravei meus passos nos pisos de várias cidades
Sobrevivi a mentiras, saboreei verdades
E com o tempo foi-se parte da esperança

Hoje, sei que ainda tenho muito a contar
Sobre decepções, paixões, amizades e glórias
Fábulas, contos, crônicas, poesia... muitas histórias
Só estou cansado demais para continuar

As palavras? Ah, essas não encontro mais...
Só um sentimento de pura leveza
E uma única e derradeira certeza
De que as coisas que vivi e senti permanecem iguais

E, agora que as palavras abandonaram seu posto
Vou descansar, deixar que as redes me embalem
E permitir que, enfim, falem
As linhas da vida esculpidas em meu rosto

(Apenas olhem por mim...)

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Errante trovador





















Canto estas trovas como um bardo
Para muitos, murmúrios dispersos
Mas alivia-me o fardo
Entregar aos ventos estes versos

A léguas de visão turva
Reconheço os grãos de areia desertos
E enxergo depois da curva
Os que me aguardam de braços abertos

Guio-me pela estrela ao norte, cintilante
E por mais que o tempo evapore-se
Prossigo assim, despreocupado, errante

Ando, ando... pois minha sina é seguir
E deixar que o passado enamore-se
Pelas rimas que meus passos ainda hão de proferir

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Estatutos do Olhar

Artigo I
Fica estabelecida como identidade do ser humano não mais sua impressão digital e sua assinatura, mas seu olhar.

Artigo II
Fica decretado que o olhar é bem individual, tal como suas inúmeras interpretações. E é dever de todos respeitar a visão de mundo do próximo

Artigo III
Fica decretado que a beleza está para o olhar como este, por sua vez, está para a alma e que esta aliança entre os três é indissolúvel.

Artigo IV
Fica decretado que é irrevogável, inalienável e irrenunciável o direito de cada um emocionar-se diante das belezas da vida.

Artigo V
Fica proibido o condicionamento do olhar apenas para o mal, tal como qualquer expressão ou indício de indiferença no semblante diante da humilhação e exclusão alheias.
Parágrafo único
O olhar humano passa a ser livre como os olhos do condor que passeia sobre os Andes.

Artigo VI
Fica decretado que a verdade deixa, a partir de agora, de ser uma palavra para tornar-se a característica de cada olhar.
Parágrafo único
Cada dia passa a ser o Dia Oficial do “Olhar Com Bons Olhos”.

Artigo VII
Fica estabelecido que as lágrimas serão o único remédio do olhar sincero para a alma ferida.

Artigo VIII
Ficam estabelecidas como primeira e derradeira comunicações o olhar direcionado a outro.
Parágrafo Único
As palavras tornam-se meras coadjuvantes na comunicação diante da importância do olhar nos olhos.

Artigo IX
Fica estabelecido que a alma será o guia daqueles que, por decisão divina, nasceram sem ou perderam o dom da visão.

Artigo X
Passam a ser as Sete Maravilhas do Mundo:
a) O primeiro abrir de olhos do recém-nascido;
b) O olhar da mãe que amamenta o filho;
c) O olhar do pai que recebe o filho pela primeira vez no colo;
d) O olhar sábio dos idosos;
e) O olhar confortante da amizade;
f) O olhar da criança diante do brinquedo inesperado;
g) O olhar dos casais apaixonados.
E passa, também, a ser dever de todos contemplar, praticar e cultivar esses bens.

Artigo XI
Fica estabelecida a pureza do olhar como a suprema lei: a partir de agora, todos devem alinhar olhos e alma para contemplar o mundo, desbravando-o e redescobrindo-o com o deslumbramento dos olhos de uma eterna criança.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Castelos de Areia





















Os irmãos ainda ocupam-se com seus castelos
Constroem-nos como na infância... altos
Ninguém os alcança sobre estes saltos
Não compartilham seus sorrisos amarelos

Castelos recheados de esculturas
Cinzas, de pedras frias
Superfícies ásperas, expressões sombrias
Cercadas de pilastras seguras

Construções de tijolo e concreto
Rodeadas por muros
Batem à porta... nem o sol, só o escuro
Para protegerem-se da luz do incerto

Os irmãos sentem saudades
No castelo, nunca mais provaram sabores
Estão cercados de si, degustando desamores
Correndo os dedos pelas idades

Envelhecidos, desconhecem o mundo que os rodeia
Solitários entre as paredes, sujeitos a todo tipo de sorte
Os irmãos sabem que, por mais que pareçam fortes
Seus castelos serão sempre como os da infância... feitos de areia

domingo, 5 de agosto de 2007

Passos mudos





















Numa terra de sons escassos
Sigo eu, peregrino
Sem preocupar-me com o destino
Que traço por meio destes mudos passos

Desta escada, cada degrau
Sim, piso-os com firmeza
Que é para ter a certeza
Dos limites do bem e do mal

E no trajeto penso: pobre desses, mundo afora
Que temem e fogem de tudo
E que como velhos cartazes o vento levou

Sei que as fotos o tempo descolora
E aceitá-lo parece absurdo
Mas é por este incerto caminho que vou

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Esses dias





















O que acontece com esses dias?
As ruas adormecidas e cinzentas
As chuvas molham como tormentas
os olhares cheios de ironias...

O que há com esses dias?
Por que não se comunicam?
Por que os caminhos só se identificam
nessas palavras escorregadias?

Esses dias... não lhes dê ouvidos!
E este rosto que ninguém conhece?
Apenas mais um entre tantos desconhecidos

E sobrevivem como estátuas, frias...
O que acontece?
Nada... é apenas mais um desses dias

terça-feira, 17 de julho de 2007

Nasce um soneto...





















Nasce um soneto em meu caminho
Inspirado na chuva que em minha fronte goteja
Enquanto vago por aí sozinho
Em busca do que minh’alma deseja

Guarda estes versos em teus lençóis de linho
Onde eu não os veja
Pode ser na derradeira taça de vinho
O lugar deles é onde queres que seja

E diante da folha de papel desnuda
Percebo: é só mais um de meus sonetos
Não... não era Espanca, nem Neruda

Não, não eram eles... nem sessenta, nem cem
Apenas um: dois quartetos, dois tercetos...
Todos para ti e para mais ninguém

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Sobre o olhar da alma





















O que querem de mim essas palavras?
Inquietas como o vento
(uivam... uuuivam...)
Desfazem nuvens carregadas
E levam embora o desalento

Agora mais arredias
São as mesmas palavras de outrora
(esbravejam... relutam...)
Trazem rimas de noites com dias
E levam significados mundo afora

E o que dizem é um tanto evidente:
- O corpo não enxerga a verdade...
... somente o olhar da alma é clarividente

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Sobre as pegadas deixadas





















O teu próximo passo não é solitário
Tu que não o percebes
Há nele algo de solidário
Pelo alguém que agora te segues

O teu próximo passo será inseguro
Nem queiras saber o quanto
Mas por não revelar o futuro
É que mantém seu encanto

E quando aceitares essa incerteza
Das paixões mais violentas
Saberás que não estás mais sozinha

Remarei contigo pela correnteza
Desse rio de águas barrentas
E verás que as pegadas em terra firme são tuas e minhas

Mergulhado na semiótica





















Que discurso enfadonho!
Signos, signos, signos...
E se tudo for mesmo um sonho?
Quali, sin, legi... ASSASSIGNO!

Signos do irreal
Não os do zodíaco
O que é o real...
... para quem inala amoníaco?

Manter a discussão: qual o plano?
Um discurso amarelado, simpático
Sugerem o cartesiano
Vou de pragmático

O consciente afunda
O inconsciente torna-se realidade
Primeira, segunda?
Nenhuma das duas: conceito = terceiridade

Seguindo uma suposta lógica
Anestesia no estético
Quase uma substância psicotrópica
E onde fica o pensamento ético?

Só mais uma questão de ótica
Entender Charles Sanders Peirce
Mergulhado em semiótica?
Nem que eu conseguisse...

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Da insensata lucidez da vida




















Pobre senhor...
Teu tempo que na cadeira balança...
Tempo que nem mais tua mão engelhada alcança
Pobres dos que não conheceram o amor

Velho senhor...
Roupa amarelada, cabeça branca...
Essas rimas, por que de mim as arranca?
- Meu jovem, sabes também dessa dor...

Mas o poeta dizia: só há duas idades
Vivo ou morto!
Como o navio que procura um porto
E que, em novembro, retorna à nossa cidade

Senhor grisalho, sei que já quiseste voltar o tempo
Quiseste chover na estiagem
Cortar os rios de margem a margem
Molhar as pétalas de cada momento

Bem quiseste mudar o que hoje se diz
Buscaste uma jornada serena
Como o fogo nas velas da novena
Mas encontraste teu domingo feliz?

E agora, senhor? Diante de tantas vidas...
Correto, pedes desculpas mais uma vez
Não te preocupes: tuas loucuras nesta vida cometidas
Foram teus verdadeiros momentos de lucidez

(Que a vida seja leve para os que te seguem...)

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Vinte e um




















A folha do calendário voou... vinte e um
Não, não é qualquer dia
Bem que poderia ser apenas mais um
Mas a manhã despertou fria

Palavras são tudo o que me resta
E, hoje, não as encontrei
Vai, me empresta!
Tens algumas contigo, eu sei

Sem palavras, sem consolo...
Mas que desatino!
Marcarão a ferro quente esse número em mim?

Desisto deste texto! Como vou compô-lo?
Restam-me essas rimas sem destino
E essa tentativa de soneto ficará sem fim...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Em breve, teu colo...





















Deitado sem teu colo
Sem tuas mãos em meu cabelo
O tempo eu ignoro
Não há porque temê-lo

Lembro da história que me contavas
Era um conto da carochinha
Enquanto na rede me embalavas
Sonhava que a fábula era minha

Ao longo desta e de outras jornadas
Permaneceste paciente, tranqüila
Sei, portanto, que sempre me aguardas
Tua voz, de longe, posso ouvi-la

Deitada, entregue à rede, sozinha
Sei que ainda entoas a canção para mim
“Se essa rua, se essa rua fosse minha...”
Mãe, logo essa estrada chegará ao fim...

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Apenas um soneto vagabundo para ti















Enquanto repousares tua juventude
E em São João descansarem teus mortos
Navegarei os rios em sua plenitude
E atracarei em cada um desses portos

Pois minha velha canoa
Que pareceu morta, à deriva
Nas curvas do remar de outra pessoa
Novamente desliza nas águas, resiste viva

Desculpe, morena, toda essa complexidade
Foi apenas uma história mal escrita
Um soneto vagabundo

Enquanto venta do norte, tua cidade
Desejo ver contigo, em hora infinita
De novo, o entardecer mais belo do mundo

terça-feira, 5 de junho de 2007

Seiva no metal














Calor da vida... Frio do metal
A flor... O arame
É um certame?
Sim... Desencontro sentimental

O vento sussurra
A flor morre
A seiva escorre
O metal enferruja

O frio do metal persiste
Pare o momento!
Muita dor...

Que coisa triste
Tudo cinzento
A vida perde a cor

A vila dos sonhos














Boa noite, minha pequena vila
No Centro antigo, por dentre ruelas e muros
Agora livres dos sussurros
Em teus sonhos, poderei segui-la

Fecha os olhos, não temas nada
É apenas o sino tocando
E o luar se deitando
No preto-e-branco da velha calçada

Dorme, cidadezinha, como o sino dos bondinhos
Não te perturbes com nossa voz
Mas reza por nós
Teus filhos ribeirinhos

Recolhe-te, não faças mais esforço
Adormece serena
E sonha com a linda morena
Espelhada na retina do caboclo moço

Vai, seduzida pelo travesseiro
Abandona nele tuas mágoas
Como no encontro das águas
Assim o faz o canoeiro

Dorme logo, protege-te do frio
Novamente cedo vais acordar
Para ver o sol revelar
A negritude do rio

E prometo-te, amanhã, mais uma noite tranqüila
Pois acordarás na realidade
Com semblante de grande cidade
Mas, em meus sonhos, dormirás sempre como vila

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Do frio que bate





















Espirro, gripe, coriza
Sinusite, rinite, dor de cabeça
Tomar remédio? Esqueça!
Prefiro enfrentar o vento sem camisa

Seis, sete, oito graus... não passa do nono
Bate um forte frio interno
Calma, nem chegou o inverno
É apenas o nosso outono

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Labirinto gramatical















Bom dia, boa tarde
Como vai, vossa excelência?
Hífen na metade
No fim, só reticências

Ando bem substantivo
Um pouco preposição
Um tanto adjetivo
Puramente conjunção

Estou perplexo
Mas que absurdo!
Nada circunflexo
Tudo muito agudo

É que o período simples
Tornou-se composto
Meio vocativo
Extremamente aposto

Foi uma vírgula, frase separada
Hora da exclamação
Ponto final? Que nada!
Olha o tamanho da interrogação

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Palavras de um adeus

Por quê? Por quê?
Por que te vais?
Desculpa-me, não desejo pressionar-te
Mas ver-te partir dói demais
Quantas confissões fiz a ti?
E quanto mais sobre mim escreveste?
Seguraste minha mão nas horas difíceis
E nas fáceis assim permaneceste
E agora tens que ir...
Descrevemos o sol na noite
E contemplamos a lua de dia
Até a chuva prometeste que para nós tomarias
Desentendimentos, sim!
Até riscaste meu rosto
Mas deixei-te cair várias vezes
Apaga de ti este desgosto
Aqueceste-me com tuas palavras
Mas confesso, nem agora vou mentir
Procurarei em outras a tua companhia
E coisas novas do dia-a-dia
Mas jamais me esquecerei de ti
Estarás em cada passo que eu der
Em cada brisa que vier
Serás sempre única
Pois foste a única a descrever meu silêncio
Mas não entendo por que vais...
Perdoe-me, cá estou de novo
Não quero pressionar-te ainda mais
Basta a tal da gravidade
Pressionando-te contra esta superfície
Forçando-te a dizer mais uma dolorosa verdade
O tempo passa para todos e tudo
Passou para ti e para mim
Mas ainda vale o que chorei e o que sorri
Vai agora, descansa
A tinta que acabaste comigo faz deste adeus algo tão doloroso
Mas vai, sem mágoas
Pois cada palavra que disseste
Sobre o hoje, o agora
E uma tal de vida inteira
Faz valer ainda mais o silêncio que de ti se aproxima
Adeus, minha amiga, agora vazia, caneta tinteira

terça-feira, 22 de maio de 2007

Cheio de sem tempo















Não tenho tempo
Tempo é ilusão
Paro o tempo no relógio
Tenho tempo em minhas mãos

Não tenho tempo
Foi só uma distração
Perdi a tal da hora
Tempo é invenção

Não tenho tempo
E já me acostumei
Não necessito andar depressa
Pois muitos tempos transpassei

Não tenho tempo
Escrever não é obrigação
É apenas o meu jeito
Um tempo a passar com a solidão

Não tenho tempo
Põe a panela no fogo
Estou escolhendo as cartas
Arrumei tempo para este jogo

Não tenho tempo
Traz meu jaraqui
Sou feito de outra matéria
Desconhecida para ti

Não tenho tempo
Vou marcar o terreno
Enxuga teus olhos
Umedece-os no sereno

Não tenho tempo
Esquece minha camisa
Vou sair amarrotado
Despreocupado com a brisa

Não tenho tempo
Meus sapatos causam-me bolhas
Preciso continuar andando
O tempo esquiva-se das escolhas

Não tenho tempo
Encontro algum para te dizer
Fizeste esta poesia
Apenas arrumei tempo para escrever

Não tenho tempo
Permaneço ocioso
Tu, curiosa?
Eu, orgulhoso

Não tenho tempo
Sou animal noturno
Tu, da Grécia, Atena
Eu, de Roma, Saturno

domingo, 20 de maio de 2007

Maus lençóis















Lençóis, esses lençóis
Quantas lágrimas por teus bons lençóis?
Não me culpes por isso
Foste tu que me cobriste

Lençol, um lençol
Queres o teu de volta?
Não te julgo por isso
Não te cobri como deveria

Lençóis, outros lençóis
Estou mesmo em maus lençóis?
Não me deixes nessa dúvida
Pois já me deixaste passar a noite no frio

terça-feira, 15 de maio de 2007

Poema da derradeira semana















Domingo, um calor, um olhar
Segunda-feira, um filme, um jantar
Terça-feira, uma noite, uma confissão
Quarta-feira, uma entrega, uma viagem
Quinta-feira, um doce regresso, uma contramão
Sexta-feira, o derradeiro sopro de felicidade
Sábado? Não sei, nem vi
Até meus óculos perdi
E fim desta inesquecível semana
Para mim e para ti

Passo torto















Teus sapatos não me agradaram hoje
Mesmo não sendo os mesmos que me pisotearam
Preferiria ver-te descalça
Sentir teus pés gelados

Não é possível
E culpo minhas próprias sandálias
Cansadas de me equilibrar
E incapazes de me manter do teu lado

Arranco-as sem arrependimento, sem pudor
Massageio o asfalto quente
Dói e não te alcanço

Sigo-te de longe, passeio pelos campos
O fim deste texto diferente?
Talvez quando entregar-me a ti, meu descanso