Porque do tempo corres cedo
por entre vilas maltratadas
amolecendo o asfalto, as calçadas
num domingo de arremedo
Porque te fazes sentida
em tudo o que revelas
Até às cores da aquarela
trazes o dom da vida
Porque passeias entre campos e cidades
comigo... Desfilando finalidades,
umedecendo a face avulsa
Tal como lágrima reinventada
Quente, destilada,
solitária e insulsa
sábado, 29 de dezembro de 2007
Réquiem para a derradeira lágrima
Autor: Raphael Alves às 17:59 8 comentários
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Sobre imagens e palavras
Enquanto revejo os últimos dias
Sereno, meu corpo inerte
aguarda que minha mente disserte
sobre se tu, Palavra, a mim voltarias
Palavra, nesta tua viagem
nesses teus dias de ausência
deixaste num inquietante vazio de eloqüência
a mim, que me chamo Imagem
Mas em momento apropriado
sobre esta vida de significante e significado
falarei em um ou dois comentários:
Despidos da mais nobre alegria
com suas cestas de palavras sem poesia
pobres mesmo são os dicionários...
Autor: Raphael Alves às 02:20 14 comentários
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Do que se tinha em mãos
Já foram as cores tão desbotadas
E tudo o que prometo
Tantas as semanas passadas
Tomando a forma de um soneto
Se há nuvens no céu
Contemple-as enquanto lá estão
Não importa se numa folha de papel
Ou na nota desafinada da canção
Benditas as palavras poucas
E as vozes que soam roucas
Porque delas ainda dispomos
Mas foi-se o dia...
E foi-se a poesia...
E foi-se o tempo em que éramos o que somos
Autor: Raphael Alves às 02:11 10 comentários
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Carta ao relógio
Minutos escapam aos meus dedos
Inconstantes...
Trazem com sua partida os meus medos
Receios de um jovem errante
Se tenho de caminhar sozinho
Que seja no fim do ano
Deixo hoje em meu caminho
Apenas as pegadas do cotidiano
É hora de enfrentar novas batalhas
Vestir minhas armas, como sempre faço
Levantar e calçar minhas velhas sandálias
Se o relógio é Vivaldi, eu sou Beethoven
Ele insiste em trazer outras estações em seu sonoro compasso
Mas é aos meus passos, somente a eles que os tempos ouvem...
Autor: Raphael Alves às 18:13 13 comentários
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Pequenos versos para o céu...
Alcançar o céu, uma longa viagem...
Despedaçado da tentativa... hora de reunir o que restou
Sei que terei que atravessar o rio até a outra margem
Mas é em busca daquelas nuvens no horizonte que eu vou
Autor: Raphael Alves às 22:34 8 comentários
Depois da travessia
Lembrando da terra em que foi garoto
Das vezes em que observou o bom humor do boto
Ele que remou o dia inteiro...
Líricas são suas redes de pescar
Trazem notícias e tantas novas histórias
Antigas virtudes, recentes glórias
Uma nova jornada para relatar
De tantas travessias, a mão calejada pelo remo
Suportou o vento e seu eloqüente açoite
Força que vinha da vida que deixou para trás
Ah, não poderia haver regresso mais sereno
Depois de mais uma solitária noite
Que estar de volta aos braços daquela que deixou no cais
Autor: Raphael Alves às 02:42 6 comentários
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Escultura
E eu era apenas um menino...
Pronto para embarcar na companhia de pessoas estranhas
Em busca de novas façanhas
Que sustentassem este corpo franzino
E eu era só um menino...
Admirando o vento sobre as águas
Esperando que ele soprasse para longe as minhas mágoas
Ah! Aquelas vagas esperanças de meninos...
Mas não sou mais aquela criança
Gravei meus passos nos pisos de várias cidades
Sobrevivi a mentiras, saboreei verdades
E com o tempo foi-se parte da esperança
Hoje, sei que ainda tenho muito a contar
Sobre decepções, paixões, amizades e glórias
Fábulas, contos, crônicas, poesia... muitas histórias
Só estou cansado demais para continuar
As palavras? Ah, essas não encontro mais...
Só um sentimento de pura leveza
E uma única e derradeira certeza
De que as coisas que vivi e senti permanecem iguais
E, agora que as palavras abandonaram seu posto
Vou descansar, deixar que as redes me embalem
E permitir que, enfim, falem
As linhas da vida esculpidas em meu rosto
(Apenas olhem por mim...)
Autor: Raphael Alves às 21:32 12 comentários
terça-feira, 21 de agosto de 2007
Errante trovador
Canto estas trovas como um bardo
Para muitos, murmúrios dispersos
Mas alivia-me o fardo
Entregar aos ventos estes versos
A léguas de visão turva
Reconheço os grãos de areia desertos
E enxergo depois da curva
Os que me aguardam de braços abertos
Guio-me pela estrela ao norte, cintilante
E por mais que o tempo evapore-se
Prossigo assim, despreocupado, errante
Ando, ando... pois minha sina é seguir
E deixar que o passado enamore-se
Pelas rimas que meus passos ainda hão de proferir
Autor: Raphael Alves às 21:51 7 comentários
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Estatutos do Olhar
Fica estabelecida como identidade do ser humano não mais sua impressão digital e sua assinatura, mas seu olhar.
Artigo II
Fica decretado que o olhar é bem individual, tal como suas inúmeras interpretações. E é dever de todos respeitar a visão de mundo do próximo
Artigo III
Fica decretado que a beleza está para o olhar como este, por sua vez, está para a alma e que esta aliança entre os três é indissolúvel.
Artigo IV
Fica decretado que é irrevogável, inalienável e irrenunciável o direito de cada um emocionar-se diante das belezas da vida.
Artigo V
Fica proibido o condicionamento do olhar apenas para o mal, tal como qualquer expressão ou indício de indiferença no semblante diante da humilhação e exclusão alheias.
Parágrafo único
O olhar humano passa a ser livre como os olhos do condor que passeia sobre os Andes.
Artigo VI
Fica decretado que a verdade deixa, a partir de agora, de ser uma palavra para tornar-se a característica de cada olhar.
Parágrafo único
Cada dia passa a ser o Dia Oficial do “Olhar Com Bons Olhos”.
Artigo VII
Fica estabelecido que as lágrimas serão o único remédio do olhar sincero para a alma ferida.
Artigo VIII
Ficam estabelecidas como primeira e derradeira comunicações o olhar direcionado a outro.
Parágrafo Único
As palavras tornam-se meras coadjuvantes na comunicação diante da importância do olhar nos olhos.
Artigo IX
Fica estabelecido que a alma será o guia daqueles que, por decisão divina, nasceram sem ou perderam o dom da visão.
Artigo X
Passam a ser as Sete Maravilhas do Mundo:
a) O primeiro abrir de olhos do recém-nascido;
b) O olhar da mãe que amamenta o filho;
c) O olhar do pai que recebe o filho pela primeira vez no colo;
d) O olhar sábio dos idosos;
e) O olhar confortante da amizade;
f) O olhar da criança diante do brinquedo inesperado;
g) O olhar dos casais apaixonados.
E passa, também, a ser dever de todos contemplar, praticar e cultivar esses bens.
Artigo XI
Fica estabelecida a pureza do olhar como a suprema lei: a partir de agora, todos devem alinhar olhos e alma para contemplar o mundo, desbravando-o e redescobrindo-o com o deslumbramento dos olhos de uma eterna criança.
Autor: Raphael Alves às 00:10 24 comentários
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Castelos de Areia
Os irmãos ainda ocupam-se com seus castelos
Constroem-nos como na infância... altos
Ninguém os alcança sobre estes saltos
Não compartilham seus sorrisos amarelos
Castelos recheados de esculturas
Cinzas, de pedras frias
Superfícies ásperas, expressões sombrias
Cercadas de pilastras seguras
Construções de tijolo e concreto
Rodeadas por muros
Batem à porta... nem o sol, só o escuro
Para protegerem-se da luz do incerto
Os irmãos sentem saudades
No castelo, nunca mais provaram sabores
Estão cercados de si, degustando desamores
Correndo os dedos pelas idades
Envelhecidos, desconhecem o mundo que os rodeia
Solitários entre as paredes, sujeitos a todo tipo de sorte
Os irmãos sabem que, por mais que pareçam fortes
Seus castelos serão sempre como os da infância... feitos de areia
Autor: Raphael Alves às 02:42 9 comentários
domingo, 5 de agosto de 2007
Passos mudos
Numa terra de sons escassos
Sigo eu, peregrino
Sem preocupar-me com o destino
Que traço por meio destes mudos passos
Desta escada, cada degrau
Sim, piso-os com firmeza
Que é para ter a certeza
Dos limites do bem e do mal
E no trajeto penso: pobre desses, mundo afora
Que temem e fogem de tudo
E que como velhos cartazes o vento levou
Sei que as fotos o tempo descolora
E aceitá-lo parece absurdo
Mas é por este incerto caminho que vou
Autor: Raphael Alves às 23:23 12 comentários
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
Esses dias
O que acontece com esses dias?
As ruas adormecidas e cinzentas
As chuvas molham como tormentas
os olhares cheios de ironias...
O que há com esses dias?
Por que não se comunicam?
Por que os caminhos só se identificam
nessas palavras escorregadias?
Esses dias... não lhes dê ouvidos!
E este rosto que ninguém conhece?
Apenas mais um entre tantos desconhecidos
E sobrevivem como estátuas, frias...
O que acontece?
Nada... é apenas mais um desses dias
Autor: Raphael Alves às 00:42 6 comentários
terça-feira, 17 de julho de 2007
Nasce um soneto...
Nasce um soneto em meu caminho
Inspirado na chuva que em minha fronte goteja
Enquanto vago por aí sozinho
Em busca do que minh’alma deseja
Guarda estes versos em teus lençóis de linho
Onde eu não os veja
Pode ser na derradeira taça de vinho
O lugar deles é onde queres que seja
E diante da folha de papel desnuda
Percebo: é só mais um de meus sonetos
Não... não era Espanca, nem Neruda
Não, não eram eles... nem sessenta, nem cem
Apenas um: dois quartetos, dois tercetos...
Todos para ti e para mais ninguém
Autor: Raphael Alves às 18:22 12 comentários
quinta-feira, 12 de julho de 2007
Sobre o olhar da alma
O que querem de mim essas palavras?
Inquietas como o vento
(uivam... uuuivam...)
Desfazem nuvens carregadas
E levam embora o desalento
Agora mais arredias
São as mesmas palavras de outrora
(esbravejam... relutam...)
Trazem rimas de noites com dias
E levam significados mundo afora
E o que dizem é um tanto evidente:
- O corpo não enxerga a verdade...
... somente o olhar da alma é clarividente
Autor: Raphael Alves às 03:43 9 comentários
quarta-feira, 4 de julho de 2007
Sobre as pegadas deixadas
O teu próximo passo não é solitário
Tu que não o percebes
Há nele algo de solidário
Pelo alguém que agora te segues
O teu próximo passo será inseguro
Nem queiras saber o quanto
Mas por não revelar o futuro
É que mantém seu encanto
E quando aceitares essa incerteza
Das paixões mais violentas
Saberás que não estás mais sozinha
Remarei contigo pela correnteza
Desse rio de águas barrentas
E verás que as pegadas em terra firme são tuas e minhas
Autor: Raphael Alves às 01:33 14 comentários
Mergulhado na semiótica
Que discurso enfadonho!
Signos, signos, signos...
E se tudo for mesmo um sonho?
Quali, sin, legi... ASSASSIGNO!
Signos do irreal
Não os do zodíaco
O que é o real...
... para quem inala amoníaco?
Manter a discussão: qual o plano?
Um discurso amarelado, simpático
Sugerem o cartesiano
Vou de pragmático
O consciente afunda
O inconsciente torna-se realidade
Primeira, segunda?
Nenhuma das duas: conceito = terceiridade
Seguindo uma suposta lógica
Anestesia no estético
Quase uma substância psicotrópica
E onde fica o pensamento ético?
Só mais uma questão de ótica
Entender Charles Sanders Peirce
Mergulhado em semiótica?
Nem que eu conseguisse...
Autor: Raphael Alves às 01:25 3 comentários
quarta-feira, 27 de junho de 2007
Da insensata lucidez da vida
Pobre senhor...
Teu tempo que na cadeira balança...
Tempo que nem mais tua mão engelhada alcança
Pobres dos que não conheceram o amor
Velho senhor...
Roupa amarelada, cabeça branca...
Essas rimas, por que de mim as arranca?
- Meu jovem, sabes também dessa dor...
Mas o poeta dizia: só há duas idades
Vivo ou morto!
Como o navio que procura um porto
E que, em novembro, retorna à nossa cidade
Senhor grisalho, sei que já quiseste voltar o tempo
Quiseste chover na estiagem
Cortar os rios de margem a margem
Molhar as pétalas de cada momento
Bem quiseste mudar o que hoje se diz
Buscaste uma jornada serena
Como o fogo nas velas da novena
Mas encontraste teu domingo feliz?
E agora, senhor? Diante de tantas vidas...
Correto, pedes desculpas mais uma vez
Não te preocupes: tuas loucuras nesta vida cometidas
Foram teus verdadeiros momentos de lucidez
(Que a vida seja leve para os que te seguem...)
Autor: Raphael Alves às 01:46 15 comentários
quinta-feira, 21 de junho de 2007
Vinte e um
A folha do calendário voou... vinte e um
Não, não é qualquer dia
Bem que poderia ser apenas mais um
Mas a manhã despertou fria
Palavras são tudo o que me resta
E, hoje, não as encontrei
Vai, me empresta!
Tens algumas contigo, eu sei
Sem palavras, sem consolo...
Mas que desatino!
Marcarão a ferro quente esse número em mim?
Desisto deste texto! Como vou compô-lo?
Restam-me essas rimas sem destino
E essa tentativa de soneto ficará sem fim...
Autor: Raphael Alves às 00:12 8 comentários
quarta-feira, 20 de junho de 2007
Em breve, teu colo...
Deitado sem teu colo
Sem tuas mãos em meu cabelo
O tempo eu ignoro
Não há porque temê-lo
Lembro da história que me contavas
Era um conto da carochinha
Enquanto na rede me embalavas
Sonhava que a fábula era minha
Ao longo desta e de outras jornadas
Permaneceste paciente, tranqüila
Sei, portanto, que sempre me aguardas
Tua voz, de longe, posso ouvi-la
Deitada, entregue à rede, sozinha
Sei que ainda entoas a canção para mim
“Se essa rua, se essa rua fosse minha...”
Mãe, logo essa estrada chegará ao fim...
Autor: Raphael Alves às 18:21 9 comentários
sexta-feira, 8 de junho de 2007
Apenas um soneto vagabundo para ti
Enquanto repousares tua juventude
E em São João descansarem teus mortos
Navegarei os rios em sua plenitude
E atracarei em cada um desses portos
Pois minha velha canoa
Que pareceu morta, à deriva
Nas curvas do remar de outra pessoa
Novamente desliza nas águas, resiste viva
Desculpe, morena, toda essa complexidade
Foi apenas uma história mal escrita
Um soneto vagabundo
Enquanto venta do norte, tua cidade
Desejo ver contigo, em hora infinita
De novo, o entardecer mais belo do mundo
Autor: Raphael Alves às 22:13 7 comentários
terça-feira, 5 de junho de 2007
Seiva no metal
Calor da vida... Frio do metal
A flor... O arame
É um certame?
Sim... Desencontro sentimental
O vento sussurra
A flor morre
A seiva escorre
O metal enferruja
O frio do metal persiste
Pare o momento!
Muita dor...
Que coisa triste
Tudo cinzento
A vida perde a cor
Autor: Raphael Alves às 17:02 5 comentários
A vila dos sonhos
Agora livres dos sussurros
Em teus sonhos, poderei segui-la
Fecha os olhos, não temas nada
É apenas o sino tocando
E o luar se deitando
No preto-e-branco da velha calçada
Dorme, cidadezinha, como o sino dos bondinhos
Não te perturbes com nossa voz
Mas reza por nós
Teus filhos ribeirinhos
Recolhe-te, não faças mais esforço
Adormece serena
E sonha com a linda morena
Espelhada na retina do caboclo moço
Vai, seduzida pelo travesseiro
Abandona nele tuas mágoas
Como no encontro das águas
Assim o faz o canoeiro
Dorme logo, protege-te do frio
Novamente cedo vais acordar
Para ver o sol revelar
A negritude do rio
E prometo-te, amanhã, mais uma noite tranqüila
Pois acordarás na realidade
Com semblante de grande cidade
Mas, em meus sonhos, dormirás sempre como vila
Autor: Raphael Alves às 02:42 6 comentários
quinta-feira, 31 de maio de 2007
Do frio que bate
Espirro, gripe, coriza
Sinusite, rinite, dor de cabeça
Tomar remédio? Esqueça!
Prefiro enfrentar o vento sem camisa
Seis, sete, oito graus... não passa do nono
Bate um forte frio interno
Calma, nem chegou o inverno
É apenas o nosso outono
Autor: Raphael Alves às 00:49 6 comentários
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Labirinto gramatical
Bom dia, boa tarde
Como vai, vossa excelência?
Hífen na metade
No fim, só reticências
Ando bem substantivo
Um pouco preposição
Um tanto adjetivo
Puramente conjunção
Estou perplexo
Mas que absurdo!
Nada circunflexo
Tudo muito agudo
É que o período simples
Tornou-se composto
Meio vocativo
Extremamente aposto
Foi uma vírgula, frase separada
Hora da exclamação
Ponto final? Que nada!
Olha o tamanho da interrogação
Autor: Raphael Alves às 00:48 6 comentários
sexta-feira, 25 de maio de 2007
Palavras de um adeus
Por quê? Por quê?
Por que te vais?
Desculpa-me, não desejo pressionar-te
Mas ver-te partir dói demais
Quantas confissões fiz a ti?
E quanto mais sobre mim escreveste?
Seguraste minha mão nas horas difíceis
E nas fáceis assim permaneceste
E agora tens que ir...
Descrevemos o sol na noite
E contemplamos a lua de dia
Até a chuva prometeste que para nós tomarias
Desentendimentos, sim!
Até riscaste meu rosto
Mas deixei-te cair várias vezes
Apaga de ti este desgosto
Aqueceste-me com tuas palavras
Mas confesso, nem agora vou mentir
Procurarei em outras a tua companhia
E coisas novas do dia-a-dia
Mas jamais me esquecerei de ti
Estarás em cada passo que eu der
Em cada brisa que vier
Serás sempre única
Pois foste a única a descrever meu silêncio
Mas não entendo por que vais...
Perdoe-me, cá estou de novo
Não quero pressionar-te ainda mais
Basta a tal da gravidade
Pressionando-te contra esta superfície
Forçando-te a dizer mais uma dolorosa verdade
O tempo passa para todos e tudo
Passou para ti e para mim
Mas ainda vale o que chorei e o que sorri
Vai agora, descansa
A tinta que acabaste comigo faz deste adeus algo tão doloroso
Mas vai, sem mágoas
Pois cada palavra que disseste
Sobre o hoje, o agora
E uma tal de vida inteira
Faz valer ainda mais o silêncio que de ti se aproxima
Adeus, minha amiga, agora vazia, caneta tinteira
Autor: Raphael Alves às 11:55 5 comentários
terça-feira, 22 de maio de 2007
Cheio de sem tempo
Não tenho tempo
Tempo é ilusão
Paro o tempo no relógio
Tenho tempo em minhas mãos
Não tenho tempo
Foi só uma distração
Perdi a tal da hora
Tempo é invenção
Não tenho tempo
E já me acostumei
Não necessito andar depressa
Pois muitos tempos transpassei
Não tenho tempo
Escrever não é obrigação
É apenas o meu jeito
Um tempo a passar com a solidão
Não tenho tempo
Põe a panela no fogo
Estou escolhendo as cartas
Arrumei tempo para este jogo
Não tenho tempo
Traz meu jaraqui
Sou feito de outra matéria
Desconhecida para ti
Não tenho tempo
Vou marcar o terreno
Enxuga teus olhos
Umedece-os no sereno
Não tenho tempo
Esquece minha camisa
Vou sair amarrotado
Despreocupado com a brisa
Não tenho tempo
Meus sapatos causam-me bolhas
Preciso continuar andando
O tempo esquiva-se das escolhas
Não tenho tempo
Encontro algum para te dizer
Fizeste esta poesia
Apenas arrumei tempo para escrever
Não tenho tempo
Permaneço ocioso
Tu, curiosa?
Eu, orgulhoso
Não tenho tempo
Sou animal noturno
Tu, da Grécia, Atena
Eu, de Roma, Saturno
Autor: Raphael Alves às 01:35 8 comentários
domingo, 20 de maio de 2007
Maus lençóis
Lençóis, esses lençóis
Quantas lágrimas por teus bons lençóis?
Não me culpes por isso
Foste tu que me cobriste
Lençol, um lençol
Queres o teu de volta?
Não te julgo por isso
Não te cobri como deveria
Lençóis, outros lençóis
Estou mesmo em maus lençóis?
Não me deixes nessa dúvida
Pois já me deixaste passar a noite no frio
Autor: Raphael Alves às 02:55 2 comentários
terça-feira, 15 de maio de 2007
Poema da derradeira semana
Domingo, um calor, um olhar
Segunda-feira, um filme, um jantar
Terça-feira, uma noite, uma confissão
Quarta-feira, uma entrega, uma viagem
Quinta-feira, um doce regresso, uma contramão
Sexta-feira, o derradeiro sopro de felicidade
Sábado? Não sei, nem vi
Até meus óculos perdi
E fim desta inesquecível semana
Para mim e para ti
Autor: Raphael Alves às 13:50 4 comentários
Passo torto
Teus sapatos não me agradaram hoje
Mesmo não sendo os mesmos que me pisotearam
Preferiria ver-te descalça
Sentir teus pés gelados
Não é possível
E culpo minhas próprias sandálias
Cansadas de me equilibrar
E incapazes de me manter do teu lado
Arranco-as sem arrependimento, sem pudor
Massageio o asfalto quente
Dói e não te alcanço
Sigo-te de longe, passeio pelos campos
O fim deste texto diferente?
Talvez quando entregar-me a ti, meu descanso
Autor: Raphael Alves às 01:49 3 comentários