terça-feira, 3 de março de 2009

Então Chove

(I)



Foi-se o tempo fechando aos poucos
E aqueles que lá estavam
falavam, falavam
Muito! Como loucos!

Mas levanto e, em grito, meu troco!
E os que falavam
agora apenas se entreolhavam
Observavam-me ficar rouco:

— Calem-se! Quero em silêncio ouvi-la!
É a chuva! A tão esperada chuva!
Vejam como cai tranquila...

— Calem-se todos, por favor!
Ouçam, pois nem tudo é chuva,
mas toda chuva lembra um amor

(II)

A chuva vem chegando, assim, de espreita
— Sou eu, Precipitação!
Disse ela sem ver a quem, sem distinção
para guarda-chuvas largos e ruas estreitas

— A chuva vem chovendo — assim ela mesma cantou.
Nuvem cinza que a todos surpreende
E vem chovendo palavras que ninguém entende
Umedecendo as folhas da árvore que agitou

Ó nuvens claras que vem com o romper da aurora,
sois tão indecisas!
Nem sois tão claras quanto outrora!

Sois apenas pobres nuvens sobre a cidade
Que, perdidas, tentam denunciar algumas brisas
Mas hoje é mesmo dia de tempestade

(III)



Se me queres, ó Chuva,
queira-me calada
não o digas às telhas
nem às copas das árvores
nem às rosas vermelhas
nem às estátuas de mármore

Se me queres, ó Chuva,
mesmo que torrente sejas leve
deixa-me seguir minha jornada
pois a vida é breve
e o amor uma sinuosa estrada