Está pesado...
Paro um instante...
Dê-me mais um fardo!
Aquele não era o bastante
domingo, 11 de dezembro de 2011
quinta-feira, 24 de março de 2011
Primavera de um flor só
sem uma lágrima de dó
ceifar-lhe a cor?
Encontrá-lo, anseio...
Por enquanto, apenas devaneio:
− Quem me dera
se de uma flor só
refizesse-se inteira a primavera
Autor: Raphael Alves às 00:27 9 comentários
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Hora Marcada
E quem sabe até... O próprio seio!
De um banzeiro que acerta em cheio
Volve em meio ao que é tontura
Quem sou para pedir conforto?
Se vais estar lá, talvez nem eu saiba
Talvez nem caiba
Quando meu barco deixar o porto
O que fazes por pensar
Em virtude da temperança
Não há motivos para chorar
Deixa as lágrimas guardadas
Para aquelas lembranças
que só chegam em horas marcadas
Autor: Raphael Alves às 01:00 8 comentários
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Cadeiras Vazias
Era luz... Agora, escuridão
Não está no palco... Não!
Nem no camarim...
Saí por último do show
Queria aplaudir...
Mas não há ninguém aqui!
Pena que acabou...
Vejam! A peça acabou...
A tragédia de um amor vivido...
A comédia de falsas alegrias!
E hoje, que até já passou
na plateia, entristecido,
caminho entre cadeiras vazias
Autor: Raphael Alves às 00:14 16 comentários
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Sombra
ou o que achei ser um dia
Neto de Ruy...
Filho de uma Maria...
Mas agora sou sombra apenas
Que, no meio dum dia, vaga
E nas horas mais serenas
tanto aparece, que até se apaga
Autor: Raphael Alves às 22:12 6 comentários
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Só uma tarde
Forte, altivo, sozinho
bronzeando horizontes
iluminando meu caminho
Gostava de ti, mas a noite que chegava
tão escura, tão fria
não avisou o quanto pesava
e maltratava o que fora um dia
O Sol... Outrora tão quente...
apagaram-no numa tarde caída
nem parecia de verdade...
Ah, o Sol! Antes tão contente!
sempre esteve em minha vida
pena que durou só uma tarde
Autor: Raphael Alves às 01:06 10 comentários
sábado, 2 de janeiro de 2010
Perdido
O que buscas aqui de madrugada
no meio do nada?
Pareces tão sozinho...
Tanto peso em teus ombros...
Por que te escondes?
Por que não me respondes?
O que há nesses escombros?
Se no silêncio há secura
No coração, resta a procura
de respostas num caminho
Mas como luar se és tão vespertino?
Como amar se és tão menino?
É... Estás perdido, garotinho...
Autor: Raphael Alves às 17:27 6 comentários
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Coqueluche
que não vais me deixar
Eu quero tossir
até não mais respirar
Fala... devagarinho
onde queres acertar
pois eu vou tossir
Tossir até sangrar
Coqueluche desde o início
Fala assim... Rarefeito!
Quem sabe eu não me convenço
Ou melhor que isso
Acerta aqui no peito
Machuca, mas permanece em silêncio
Autor: Raphael Alves às 00:21 6 comentários
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Súplica no Madeira
É para Borba que eu sigo
em solitária procissão
pelas águas, Deus comigo
e uma fitinha em minha mão
Nas carícias de uma brisa
na pequena embarcação
e o remo que desliza
é o gesto em oração
Seu Antônio de Borba
pouco tenho a oferecer
na minha vida sua obra
viajei pra agradecer
Nos banzeiros do Madeira
sobrevivo sonhador
de prender na malhadeira
a fartura de um amor
Sou humilde, sou assim
sou apenas ribeirinho
Caboclo de Antônio
que ainda não sabe orar
Vim a Borba, meu santinho
então não perde a fé em mim
que o maior dos meus sonhos
ainda é saber amar
Autor: Raphael Alves às 13:38 5 comentários
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Porque choram os rios
E tirar do rumo a correnteza
deste leito?
Por que aterrar o meu olhar?
Tentar tirar de mim essa tristeza
do peito?
Deixa chorar
as mágoas
de um desamor
Deixa rolar
as águas
Autor: Raphael Alves às 23:00 6 comentários
terça-feira, 17 de novembro de 2009
O que toca o chão
num semblante de agora
move-se, fere, sai
Como pode se tão certo outrora?
Não cala, mas não diz
Num pedaço que se vai
como nem mesmo quis
É lágrima que cai
E não rima com a calma
É um chumaço de minh’alma
que não toca teu coração
E já que fazê-lo é tão difícil
que esta não morra num precipício
e encontre ao menos o meu chão
Autor: Raphael Alves às 12:19 11 comentários
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Na beira do rio
Tanta coisa na beira do rio acontece
É o trabalho do canoeiro
É o casal namorando no outeiro
e um vento que abençoa como prece
E lá no rio é tanta corredeira
tanta pressa pra tanta solidão
É... Assim, sentada aqui no beiradão
até a vida passa a vida inteira
Até a tristeza passa num clarão
vai num barquinho de madeira
que de tão pequeno navega em vão
Navega perdido pelo entardecer
como esses olhos que, de alguma maneira,
fizeram este rio inteiro nascer
Autor: Raphael Alves às 18:08 6 comentários
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Daqui de cima
Daqui de cima, o fim da tarde
Estou pensando em muito mais...
Onde vou deitar o meu olhar?
Será que a espera é demais?
Será que é muito pedir paz?
Será que há pouco pra sonhar?
Onde repousar o meu olhar?
Distraída, a cidade apenas escuta
O sol padece e perde a luta
E a noite chega pra acalmar
Onde repousar o meu olhar?
Se uma estrela me ouvir
Diga a Deus que eu vou sair
E à meia-noite vou voltar
Mas onde vou deitar o meu olhar?
Autor: Raphael Alves às 00:56 13 comentários
sábado, 25 de julho de 2009
Lux Aeterna
O que está feito está feito
e somente à terra diz respeito
e o que se foi retorna ao pó
Para aprender o que jamais morre
é preciso morrer existindo
bem mais que viver desistindo
porque o tempo em si corre
E se a terra insiste
em cobrir o que se encerra
há três letras que ninguém traduz
É o que sempre existe
e não retorna à terra
porque ninguém jamais enterra a LUZ
Autor: Raphael Alves às 11:16 8 comentários
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Vai-e-Vem
no meio dum bosque, duma praça
Vai-e-Vem com leveza, com graça
Se vai-vem, que mal tem?
Vai-e-Vem, mesmo estando preso
ainda levas e trazes os sonhos
daqueles rostinhos risonhos
De tão forte, indefeso...
Um sopro que ao ar vive...
No vento em movimento, ecoa tua voz
Ali estás, acorrentado porém livre!
Balanço, ó balanço!
Poderíamos ainda ser nós
mas cresci e não te alcanço
Autor: Raphael Alves às 00:09 9 comentários
terça-feira, 3 de março de 2009
Então Chove
(I)
E aqueles que lá estavam
falavam, falavam
Muito! Como loucos!
Mas levanto e, em grito, meu troco!
E os que falavam
agora apenas se entreolhavam
Observavam-me ficar rouco:
— Calem-se! Quero em silêncio ouvi-la!
É a chuva! A tão esperada chuva!
Vejam como cai tranquila...
— Calem-se todos, por favor!
Ouçam, pois nem tudo é chuva,
mas toda chuva lembra um amor
(II)
— Sou eu, Precipitação!
Disse ela sem ver a quem, sem distinção
para guarda-chuvas largos e ruas estreitas
— A chuva vem chovendo — assim ela mesma cantou.
Nuvem cinza que a todos surpreende
E vem chovendo palavras que ninguém entende
Umedecendo as folhas da árvore que agitou
Ó nuvens claras que vem com o romper da aurora,
sois tão indecisas!
Nem sois tão claras quanto outrora!
Sois apenas pobres nuvens sobre a cidade
Que, perdidas, tentam denunciar algumas brisas
Mas hoje é mesmo dia de tempestade
Autor: Raphael Alves às 16:59 4 comentários
domingo, 14 de dezembro de 2008
Sibilinamente
Quisera eu transformar-me em silhueta
num fim de tarde violeta
pelas ruas, por cima dos muros
caminhar como sussurro
Quisera eu olhar enfim
Sibilino assim
como um suave murmuro
e, então, só haveria escuro...
Quisera, quisera tanto
cobrir-me com a noite, teu manto
mas para mim não há lugar
Quisera... Contudo, entretanto...
não percebo teus encantos
e para mim não há luar
Autor: Raphael Alves às 00:25 7 comentários
sábado, 13 de dezembro de 2008
Futura saudade
Como nas histórias mais belas,
de palavras colhidas em cestos de vime
deixam pegadas em terra firme
e querem mais altas as estrelas
Fecham os olhos e basta um segundo
— Vejam: uma bola de futebol em forma de lata!
O grande herói, ou o mais cruel dos piratas
Viajam para qualquer lugar do mundo
E eu os vejo em meu pensamento
Como as cores do catavento
Ou comandantes duma enorme nau
Ah, mantê-los assim... Minha esperança!
Mas logo serão primaveras em minha lembrança
Crianças que correram em meu quintal
Autor: Raphael Alves às 22:33 3 comentários
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Algum dia, Fátima...
Onde fomos algum dia, Fátima?
Dias em que a chuva veio
Dias em que o rio esteve cheio
Até transbordar em lágrimas
Cegos, algum dia, por um caminho desprezado
procuramos uma sombra que nos acoite
mas nada resta... nem Florbela, nem a noite
nem um sorriso desgraçado
Mas, algum dia... Algum dia é muito vago
Vago demais para um pacto
como um nenúfar perdido num lago
Tão vago, mas não lago... Agreste!
Como a vida de um cacto
Como a saudade do beijo que me deste
Autor: Raphael Alves às 14:51 9 comentários
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Domingo, enfim
às manhãs, meios-dias e fins de tarde
em silêncio, com meu jornal repetido
Canto em paz, sem fazer alarde
Canto embaixo das árvores,
um canto descansado, dissonante
que pinta a solidão nos bancos de mármore
um nó na garganta... Rascante!
Canto as notas que auferia
da partitura de domingo, enfim
Canto como preferiria
Mas não é sempre que canto assim
Canto porque é domingo. Domingo de dia!
e domingos são dias sem fim
Autor: Raphael Alves às 23:05 3 comentários