quinta-feira, 31 de maio de 2007

Do frio que bate





















Espirro, gripe, coriza
Sinusite, rinite, dor de cabeça
Tomar remédio? Esqueça!
Prefiro enfrentar o vento sem camisa

Seis, sete, oito graus... não passa do nono
Bate um forte frio interno
Calma, nem chegou o inverno
É apenas o nosso outono

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Labirinto gramatical















Bom dia, boa tarde
Como vai, vossa excelência?
Hífen na metade
No fim, só reticências

Ando bem substantivo
Um pouco preposição
Um tanto adjetivo
Puramente conjunção

Estou perplexo
Mas que absurdo!
Nada circunflexo
Tudo muito agudo

É que o período simples
Tornou-se composto
Meio vocativo
Extremamente aposto

Foi uma vírgula, frase separada
Hora da exclamação
Ponto final? Que nada!
Olha o tamanho da interrogação

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Palavras de um adeus

Por quê? Por quê?
Por que te vais?
Desculpa-me, não desejo pressionar-te
Mas ver-te partir dói demais
Quantas confissões fiz a ti?
E quanto mais sobre mim escreveste?
Seguraste minha mão nas horas difíceis
E nas fáceis assim permaneceste
E agora tens que ir...
Descrevemos o sol na noite
E contemplamos a lua de dia
Até a chuva prometeste que para nós tomarias
Desentendimentos, sim!
Até riscaste meu rosto
Mas deixei-te cair várias vezes
Apaga de ti este desgosto
Aqueceste-me com tuas palavras
Mas confesso, nem agora vou mentir
Procurarei em outras a tua companhia
E coisas novas do dia-a-dia
Mas jamais me esquecerei de ti
Estarás em cada passo que eu der
Em cada brisa que vier
Serás sempre única
Pois foste a única a descrever meu silêncio
Mas não entendo por que vais...
Perdoe-me, cá estou de novo
Não quero pressionar-te ainda mais
Basta a tal da gravidade
Pressionando-te contra esta superfície
Forçando-te a dizer mais uma dolorosa verdade
O tempo passa para todos e tudo
Passou para ti e para mim
Mas ainda vale o que chorei e o que sorri
Vai agora, descansa
A tinta que acabaste comigo faz deste adeus algo tão doloroso
Mas vai, sem mágoas
Pois cada palavra que disseste
Sobre o hoje, o agora
E uma tal de vida inteira
Faz valer ainda mais o silêncio que de ti se aproxima
Adeus, minha amiga, agora vazia, caneta tinteira

terça-feira, 22 de maio de 2007

Cheio de sem tempo















Não tenho tempo
Tempo é ilusão
Paro o tempo no relógio
Tenho tempo em minhas mãos

Não tenho tempo
Foi só uma distração
Perdi a tal da hora
Tempo é invenção

Não tenho tempo
E já me acostumei
Não necessito andar depressa
Pois muitos tempos transpassei

Não tenho tempo
Escrever não é obrigação
É apenas o meu jeito
Um tempo a passar com a solidão

Não tenho tempo
Põe a panela no fogo
Estou escolhendo as cartas
Arrumei tempo para este jogo

Não tenho tempo
Traz meu jaraqui
Sou feito de outra matéria
Desconhecida para ti

Não tenho tempo
Vou marcar o terreno
Enxuga teus olhos
Umedece-os no sereno

Não tenho tempo
Esquece minha camisa
Vou sair amarrotado
Despreocupado com a brisa

Não tenho tempo
Meus sapatos causam-me bolhas
Preciso continuar andando
O tempo esquiva-se das escolhas

Não tenho tempo
Encontro algum para te dizer
Fizeste esta poesia
Apenas arrumei tempo para escrever

Não tenho tempo
Permaneço ocioso
Tu, curiosa?
Eu, orgulhoso

Não tenho tempo
Sou animal noturno
Tu, da Grécia, Atena
Eu, de Roma, Saturno

domingo, 20 de maio de 2007

Maus lençóis















Lençóis, esses lençóis
Quantas lágrimas por teus bons lençóis?
Não me culpes por isso
Foste tu que me cobriste

Lençol, um lençol
Queres o teu de volta?
Não te julgo por isso
Não te cobri como deveria

Lençóis, outros lençóis
Estou mesmo em maus lençóis?
Não me deixes nessa dúvida
Pois já me deixaste passar a noite no frio

terça-feira, 15 de maio de 2007

Poema da derradeira semana















Domingo, um calor, um olhar
Segunda-feira, um filme, um jantar
Terça-feira, uma noite, uma confissão
Quarta-feira, uma entrega, uma viagem
Quinta-feira, um doce regresso, uma contramão
Sexta-feira, o derradeiro sopro de felicidade
Sábado? Não sei, nem vi
Até meus óculos perdi
E fim desta inesquecível semana
Para mim e para ti

Passo torto















Teus sapatos não me agradaram hoje
Mesmo não sendo os mesmos que me pisotearam
Preferiria ver-te descalça
Sentir teus pés gelados

Não é possível
E culpo minhas próprias sandálias
Cansadas de me equilibrar
E incapazes de me manter do teu lado

Arranco-as sem arrependimento, sem pudor
Massageio o asfalto quente
Dói e não te alcanço

Sigo-te de longe, passeio pelos campos
O fim deste texto diferente?
Talvez quando entregar-me a ti, meu descanso