Canto estas trovas como um bardo
Para muitos, murmúrios dispersos
Mas alivia-me o fardo
Entregar aos ventos estes versos
A léguas de visão turva
Reconheço os grãos de areia desertos
E enxergo depois da curva
Os que me aguardam de braços abertos
Guio-me pela estrela ao norte, cintilante
E por mais que o tempo evapore-se
Prossigo assim, despreocupado, errante
Ando, ando... pois minha sina é seguir
E deixar que o passado enamore-se
Pelas rimas que meus passos ainda hão de proferir
terça-feira, 21 de agosto de 2007
Errante trovador
Autor: Raphael Alves às 21:51 7 comentários
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Estatutos do Olhar
Fica estabelecida como identidade do ser humano não mais sua impressão digital e sua assinatura, mas seu olhar.
Artigo II
Fica decretado que o olhar é bem individual, tal como suas inúmeras interpretações. E é dever de todos respeitar a visão de mundo do próximo
Artigo III
Fica decretado que a beleza está para o olhar como este, por sua vez, está para a alma e que esta aliança entre os três é indissolúvel.
Artigo IV
Fica decretado que é irrevogável, inalienável e irrenunciável o direito de cada um emocionar-se diante das belezas da vida.
Artigo V
Fica proibido o condicionamento do olhar apenas para o mal, tal como qualquer expressão ou indício de indiferença no semblante diante da humilhação e exclusão alheias.
Parágrafo único
O olhar humano passa a ser livre como os olhos do condor que passeia sobre os Andes.
Artigo VI
Fica decretado que a verdade deixa, a partir de agora, de ser uma palavra para tornar-se a característica de cada olhar.
Parágrafo único
Cada dia passa a ser o Dia Oficial do “Olhar Com Bons Olhos”.
Artigo VII
Fica estabelecido que as lágrimas serão o único remédio do olhar sincero para a alma ferida.
Artigo VIII
Ficam estabelecidas como primeira e derradeira comunicações o olhar direcionado a outro.
Parágrafo Único
As palavras tornam-se meras coadjuvantes na comunicação diante da importância do olhar nos olhos.
Artigo IX
Fica estabelecido que a alma será o guia daqueles que, por decisão divina, nasceram sem ou perderam o dom da visão.
Artigo X
Passam a ser as Sete Maravilhas do Mundo:
a) O primeiro abrir de olhos do recém-nascido;
b) O olhar da mãe que amamenta o filho;
c) O olhar do pai que recebe o filho pela primeira vez no colo;
d) O olhar sábio dos idosos;
e) O olhar confortante da amizade;
f) O olhar da criança diante do brinquedo inesperado;
g) O olhar dos casais apaixonados.
E passa, também, a ser dever de todos contemplar, praticar e cultivar esses bens.
Artigo XI
Fica estabelecida a pureza do olhar como a suprema lei: a partir de agora, todos devem alinhar olhos e alma para contemplar o mundo, desbravando-o e redescobrindo-o com o deslumbramento dos olhos de uma eterna criança.
Autor: Raphael Alves às 00:10 24 comentários
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Castelos de Areia
Os irmãos ainda ocupam-se com seus castelos
Constroem-nos como na infância... altos
Ninguém os alcança sobre estes saltos
Não compartilham seus sorrisos amarelos
Castelos recheados de esculturas
Cinzas, de pedras frias
Superfícies ásperas, expressões sombrias
Cercadas de pilastras seguras
Construções de tijolo e concreto
Rodeadas por muros
Batem à porta... nem o sol, só o escuro
Para protegerem-se da luz do incerto
Os irmãos sentem saudades
No castelo, nunca mais provaram sabores
Estão cercados de si, degustando desamores
Correndo os dedos pelas idades
Envelhecidos, desconhecem o mundo que os rodeia
Solitários entre as paredes, sujeitos a todo tipo de sorte
Os irmãos sabem que, por mais que pareçam fortes
Seus castelos serão sempre como os da infância... feitos de areia
Autor: Raphael Alves às 02:42 9 comentários
domingo, 5 de agosto de 2007
Passos mudos
Numa terra de sons escassos
Sigo eu, peregrino
Sem preocupar-me com o destino
Que traço por meio destes mudos passos
Desta escada, cada degrau
Sim, piso-os com firmeza
Que é para ter a certeza
Dos limites do bem e do mal
E no trajeto penso: pobre desses, mundo afora
Que temem e fogem de tudo
E que como velhos cartazes o vento levou
Sei que as fotos o tempo descolora
E aceitá-lo parece absurdo
Mas é por este incerto caminho que vou
Autor: Raphael Alves às 23:23 12 comentários
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
Esses dias
O que acontece com esses dias?
As ruas adormecidas e cinzentas
As chuvas molham como tormentas
os olhares cheios de ironias...
O que há com esses dias?
Por que não se comunicam?
Por que os caminhos só se identificam
nessas palavras escorregadias?
Esses dias... não lhes dê ouvidos!
E este rosto que ninguém conhece?
Apenas mais um entre tantos desconhecidos
E sobrevivem como estátuas, frias...
O que acontece?
Nada... é apenas mais um desses dias
Autor: Raphael Alves às 00:42 6 comentários