Pobre senhor...
Teu tempo que na cadeira balança...
Tempo que nem mais tua mão engelhada alcança
Pobres dos que não conheceram o amor
Velho senhor...
Roupa amarelada, cabeça branca...
Essas rimas, por que de mim as arranca?
- Meu jovem, sabes também dessa dor...
Mas o poeta dizia: só há duas idades
Vivo ou morto!
Como o navio que procura um porto
E que, em novembro, retorna à nossa cidade
Senhor grisalho, sei que já quiseste voltar o tempo
Quiseste chover na estiagem
Cortar os rios de margem a margem
Molhar as pétalas de cada momento
Bem quiseste mudar o que hoje se diz
Buscaste uma jornada serena
Como o fogo nas velas da novena
Mas encontraste teu domingo feliz?
E agora, senhor? Diante de tantas vidas...
Correto, pedes desculpas mais uma vez
Não te preocupes: tuas loucuras nesta vida cometidas
Foram teus verdadeiros momentos de lucidez
(Que a vida seja leve para os que te seguem...)
quarta-feira, 27 de junho de 2007
Da insensata lucidez da vida
Autor: Raphael Alves às 01:46 15 comentários
quinta-feira, 21 de junho de 2007
Vinte e um
A folha do calendário voou... vinte e um
Não, não é qualquer dia
Bem que poderia ser apenas mais um
Mas a manhã despertou fria
Palavras são tudo o que me resta
E, hoje, não as encontrei
Vai, me empresta!
Tens algumas contigo, eu sei
Sem palavras, sem consolo...
Mas que desatino!
Marcarão a ferro quente esse número em mim?
Desisto deste texto! Como vou compô-lo?
Restam-me essas rimas sem destino
E essa tentativa de soneto ficará sem fim...
Autor: Raphael Alves às 00:12 8 comentários
quarta-feira, 20 de junho de 2007
Em breve, teu colo...
Deitado sem teu colo
Sem tuas mãos em meu cabelo
O tempo eu ignoro
Não há porque temê-lo
Lembro da história que me contavas
Era um conto da carochinha
Enquanto na rede me embalavas
Sonhava que a fábula era minha
Ao longo desta e de outras jornadas
Permaneceste paciente, tranqüila
Sei, portanto, que sempre me aguardas
Tua voz, de longe, posso ouvi-la
Deitada, entregue à rede, sozinha
Sei que ainda entoas a canção para mim
“Se essa rua, se essa rua fosse minha...”
Mãe, logo essa estrada chegará ao fim...
Autor: Raphael Alves às 18:21 9 comentários
sexta-feira, 8 de junho de 2007
Apenas um soneto vagabundo para ti
Enquanto repousares tua juventude
E em São João descansarem teus mortos
Navegarei os rios em sua plenitude
E atracarei em cada um desses portos
Pois minha velha canoa
Que pareceu morta, à deriva
Nas curvas do remar de outra pessoa
Novamente desliza nas águas, resiste viva
Desculpe, morena, toda essa complexidade
Foi apenas uma história mal escrita
Um soneto vagabundo
Enquanto venta do norte, tua cidade
Desejo ver contigo, em hora infinita
De novo, o entardecer mais belo do mundo
Autor: Raphael Alves às 22:13 7 comentários
terça-feira, 5 de junho de 2007
Seiva no metal
Calor da vida... Frio do metal
A flor... O arame
É um certame?
Sim... Desencontro sentimental
O vento sussurra
A flor morre
A seiva escorre
O metal enferruja
O frio do metal persiste
Pare o momento!
Muita dor...
Que coisa triste
Tudo cinzento
A vida perde a cor
Autor: Raphael Alves às 17:02 5 comentários
A vila dos sonhos
Agora livres dos sussurros
Em teus sonhos, poderei segui-la
Fecha os olhos, não temas nada
É apenas o sino tocando
E o luar se deitando
No preto-e-branco da velha calçada
Dorme, cidadezinha, como o sino dos bondinhos
Não te perturbes com nossa voz
Mas reza por nós
Teus filhos ribeirinhos
Recolhe-te, não faças mais esforço
Adormece serena
E sonha com a linda morena
Espelhada na retina do caboclo moço
Vai, seduzida pelo travesseiro
Abandona nele tuas mágoas
Como no encontro das águas
Assim o faz o canoeiro
Dorme logo, protege-te do frio
Novamente cedo vais acordar
Para ver o sol revelar
A negritude do rio
E prometo-te, amanhã, mais uma noite tranqüila
Pois acordarás na realidade
Com semblante de grande cidade
Mas, em meus sonhos, dormirás sempre como vila
Autor: Raphael Alves às 02:42 6 comentários