quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sei lá, Vento...















Sei lá se é apenas teu costume
Não obstante, alguém à distância
visitar-te a lembrança
E tomar-te o perfume

Há quem apenas te assista
acariciar as flores
dar vida às paisagens sem cores
e levar as páginas das revistas

Mais que isso, teu sopro fascina
– confessam as criaturas mais mundanas –
no balanço das canaranas
ecoas a mim: – Tua terra, minha sina

E em meio às partidas mais inglórias
enovela-te nos lugares mais profundos
aliviando todas as dores do mundo
em suas asas, minhas memórias

És quem me assobias os versos de Camões
e nunca se sabe o que trarás
Tu sabes? Então, assobia mais
para libertar-nos dos grilhões

És mais que bastante, outrossim
justo, porém traiçoeiro
Trouxeste de volta o primeiro
sem te explicares a mim

Ah, Vento! Sei lá...
Nem sei o que sentir
Apenas sei que sem ti
Não existe nenhum lugar

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Pequena análise do tempo















Um certo dia, quis que coubesse
nas primeiras entrelinhas
uma palavra que não fosse a minha

Nesse passado, implorei que viesses
após o inverno com que ainda sonhas
ou numa daquelas primaveras risonhas

Hoje, apenas gostaria que soubesses
que se foram as águas de março
e eu nem sei o que faço

Mas amanhã, espero que confesses:
Estes versos já foram lidos
mas nada me impede de sussurrá-los em teus ouvidos

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Soneto Quadrilátero





















Vivo em meio a um quadrilátero
que me parece desigual
longe da medida ideal...
Mas que – juram seus lados – é equilátero

Vivo enquadrado pelos quatro elementos:
ar, água, terra e fogo
como os dados de um jogo
no tabuleiro da rosa-dos-ventos

Vivo enquadrado em trâmites do Direito
enclausurado dentre trovas
sufocado em ar rarefeito

Vivo enquadrado... Antes fosse apenas suspeito!
E estes versos – confesso – são as provas
evidências de um crime imperfeito