sábado, 29 de março de 2008

Ensaio sobre a aridez















Ora, vamos...
Sei que falareis
sobre os solos inférteis
narrados por Ramos

Sobre tais vidas secas
sobre sedes inglórias
não tenho provas, mas muitas memórias
histórias quixotescas...

Então para que ledes sobre cegueira e lucidez?
A loucura que se manifeste
em dias ardentes como chama

Pois quero mesmo a aridez
num sopro de vento agreste
que me devolva aos lábios secos do Atacama

sexta-feira, 21 de março de 2008

De ondes...





















De onde a angústia vem?
Vem com o calor, ou como calafrio?
Vem pelo ar? Vem pelo rio?
Vem por que, quando e de quem?

De onde vem tal questão intransitiva?
Sem complemento...
A todo momento...
Solta em mim, à deriva

De onde vem o verbo a que me refiro?
Se antes de dizê-lo
já o retiro

Por que seguiu para o horizonte?
E já que não pude detê-lo
alguém me esconda... alguém me conte

quarta-feira, 5 de março de 2008

Quase um soneto sobre o que não se soube dizer














Preciso de um verbete... apenas um
que tenha algo a falar
ou que ao menos sirva para completar
seja simples como um ‘oi’, ou um verbo incomum

Preciso de uma palavra para quebrar esse jejum
com a qual eu cansaria de dialogar
e também de alugar
sem chegar a lugar algum

Só preciso de uma palavra...
Uma palavrinha qualquer...
ou de um dicionário inteiro!

Uma que ilustre o que é
ser desta falta de palavras prisioneiro
(...)

sábado, 1 de março de 2008

Diário de viagem





















Houve muitos dias...
Muito mais que alegrias
escondidas na bagagem
desta curta e finita viagem

Houve fantasia...
Muito mais que poesia
escolhida numa triagem
para esta longa e infinita mensagem

E há este relicário
cujo valor imaginário
é o de um dia que fora eterno

Mas acaba em São João
e se todos verão
eu, humildemente, inverno